Habitar PortugalHP

No início, existia uma casa dos anos 40 do século xx, sóbria e sobre a ria. O lugar físico continha duas construções, um tanque e um terreno arborizado.
O lugar imaterial é o Algarve de entre salinas e barrocal. O projecto nasceu para reabilitar para turismo esta casa de outrora. Como princípio, perseguimos a reinterpretação da cultura vernacular por lógicas contemporâneas, com recurso a materiais tradicionais.
Mais do que executar a simples actualização construtiva e estética, o projecto reinterpretou a preexistência a partir das memórias da família. Começou-se por guardar a implantação dos edifícios, as volumetrias, a relação entre os espaços da casa, os elementos relevantes das tipologias locais: o tanque, a açoteia, a escada exterior, o pátio coberto, o forno, a cisterna.
Foram criados quartos autónomos, integrados na casa nuclear (cozinha, salas) e nos espaços de uso colectivo (sala de workshops, tanque). Foram pensados para a fruição dos hábitos locais: as banheiras são profundas e integradas nos quartos como as fontes públicas; a cada quarto corresponde um espaço exterior, de açoteia ou de pátio; todos miram a ria e o sul.
Os materiais usados são de perto e poderiam ter sempre ali estado:
o ladrilho regional de Santa Catarina; a cal nas paredes; a brecha vermelha de São Brás; a cortiça como isolamento, o latão nas chaparias.
No  final, a casa conserva a identidade que é dela e do seu lugar, intensificada pelo projecto construído e pela vivência que é dos seus habitantes.